Chegamos com mais um Suma, o sumário mensal do PicciniCast e Projeto Estudar e Aprender, com os melhores textos, documentários e livros do mês.
No nosso cardápio suma de hoje:
- Documentário: CineMania a História das videolocadoras de São Paulo
- Livro: Homem Invisível de H. G. Wells
- Livro: Vida Sem Princípio de Henry David Thoreau
- Conto: O Muro de Jean-Paul Sartre
- Texto: Aprendizado supersticioso do Site BBC
Recomendo que você leia o Suma inteiro, mas se quiser pode rolar a página ir direto ao assunto que mais lhe interessa, mas antes vamos aos avisos do mês de setembro de 2022.
Escute aqui a versão em áudio do Suma 01
Assista a versão em vídeo do Suma 01
Avisos de outubro 2022
Iniciamos nosso grupo de motivação para estudar no canal Professor Piccini no YouTube, o grupo acontece todas as segundas às 16 h (Horário de Brasília) para participar é só seguir o canal e clicar no sininho para ser avisado de todas as lives.
Aqui tem a playlist com todos os grupos que já fizemos, atualizada semanalmente.
Ok, eu atrasei de novo! Mas tem motivos…
Você deve ter percebido que estamos a um tempo sem os episódios do PicciniCast, tive um contratempo no último mês e que agora espero ter resolvido, além disso, resolvi colocar o Suma dentro da nossa programação semanal, a ideia era fazer ele em outro dia da semana, mas por enquanto isso não é possível, para garantir que os episódios sejam publicados sem falhas resolvi incluir na programação semanal do PicciniCast.
Agora 1 vez por mês teremos o Suma.
Recados da nossa guilda:
Alguns abraços, indicações, e-mails e críticas da nossa guilda para o mês de setembro de 2022.
Indicação de livro sobre organização
Já faz um tempo que recebi um e-mail do nosso ouvinte Murilo, escrevi apenas o primeiro nome, pois não sei se o Murilo gostaria de ser identificado aqui, mas ele enviou um e-mail indicando o livro da Marie Kondo a Mágica da Arrumação, é um livro sobre organização do espaço físico para acabar com a bagunça.
Eu já ouvi falar do livro, inclusive assisti um documentário da autora no Netflix, ainda não li, mas estamos aqui trazendo a recomendação para você também.
Aqui está o livro da Marie Kondo na Amazon.
O Murilo indica que o livro deve ser lido em formato físico, então estou deixando a recomendação para você também.
Agradecimentos
Um abraço para Ana de Vitória da Conquista – BA que enviou um e-mail de agradecimento.
Um abraço e muito obrigado para Matheus também que agradeceu ao nosso podcast “3 maneiras para ser mais feliz hoje”.
Se você quiser enviar um recado, aviso, crítica ou sugestão entre em contato através do nosso site, ou e-mail.
Documentário: CineMagia — a História das videolocadoras de São Paulo
Documentário sobre a origem das videolocadoras em São Paulo, passando por toda sua história, auge e declínio.
O mais interessante são as histórias pessoais dos donos de videolocadoras e distribuidoras e sua paixão pelos filmes e negócios envolvendo a sétima arte.
Apesar do documentário focalizar em São Paulo, mesmo alguém de fora dessa cidade irá se identificar com algumas histórias contadas ali, eu mesmo que sou de Campo Grande — MS senti uma certa nostalgia ao ver as antigas locadoras.
O documentário aborda as relações humanas que as locadoras estabelecia, pois muitas vezes ali era o ponto de encontro para os amantes de filmes, além de ser um local para conversa.
Outro detalhe interessante é como a pirataria que inicialmente foi fundamental para o surgimento das videolocadoras, que antes eram chamadas de clubes, também foi responsável pelo seu fim após 2010.
Se você tem mais de 25 anos, com certeza sentirá uma certa saudade dos velhos tempos de videolocadoras e o aluguel de filmes nos fins de semana.
CineMagia está disponível no Amazon Prime.
Livro: Homem Invisível de H. G. Wells
Iniciei uma jornada desde o último mês passando por alguns clássicos da literatura que ainda não havia lido, como o Homem invisível estava disponível gratuitamente no Prime Reading resolvi ler este clássico, inclusive estou visando ler todos os livros do H. G. Wells, espero que consiga.
Confesso que quando eu pensava nesse livro imaginava ser algo totalmente diferente do que li. É uma ficção cientifica com comédia e algumas situações que parecem saídas do filme do Charlie Chaplin, apesar de o livro ser de 1897.
O protagonista rabugento é quase um vilão na história, não sei se já era uma característica dele ou se a fórmula de invisibilidade o transformou em um ser humano um tanto egoísta.
Em um momento o protagonista, que se chama Griffin, revela:
Passei em revista todas as coisas que um homem pode desejar. Sem dúvida a invisibilidade me ajudaria a consegui-las, mas também tornaria impossível desfrutá-las. A ambição, por exemplo… de que adianta ocupar uma alta posição quando não se pode ser visto ali? O amor? De que serve o amor de uma mulher se cada uma delas pode se transformar numa Dalila? Nunca me interessei por política, pelas patifarias da fama, pela filantropia, pelo esporte. O que me restava fazer? Ali estava eu, um mistério enfaixado dos pés à cabeça, uma caricatura de homem coberto de ataduras!
Que dilema! Um homem que buscou através da ciência uma fórmula de invisibilidade que no final das contas ao atingir seu objetivo não sabia o que poderia fazer dali em diante.
Griffin de fato é um homem obstinado, fez todo o possível para conseguir o que deseja, inclusive enfrentar a fúria de uma população supersticiosa.
No final é um livro bem leve que vale a pena, não é o tipo de leitura que gosto muito, mas para passar o tempo foi bem válido, recomendo.
Livro: Vida Sem Princípio de Henry David Thoreau
Mais um livro do Thoreau aqui no blog, na verdade, é um pequeno ensaio, se você não sabe o que é um ensaio recomendo este texto.
A vida sem princípio está disponível na Amazon.
Eu me identifico muito com o Thoreau ele é bem crítico em relação a várias coisas, seus argumentos geralmente são bem racionais, em alguns momentos pode soar exagerado ou excessivamente pessimista, porém ele tem um posicionamento político muito claro.
Antes de seguirmos é importante responder uma pergunta, Thoreau era de esquerda ou direita? Em um texto publicado no Wall Street Journal o professor Crispin Sartwell apresenta um argumento interessante:
Thoreau não pode ser explicado pela compreensão moderna de esquerda e direita; anexá-lo a ambos os lados é o pior tipo de anacronismo.(…) Portanto, cuidado com os pensadores contemporâneos que tentam reivindicar Thoreau como seu.
Isso é bem importante, pois é comum associarem Thoreau a alguns “ismos”. De fato, Thoreau era um individualista, mas primeiramente um pacifista, um crítico do estado e do poder econômico.
Separei alguns trechos provocantes para analisarmos agora.
Arte e trabalho
Penso que não há nada, nem mesmo o crime, que mais se opõe à poesia, à filosofia, oh!, à vida em si, do que esse trabalho incessante.
Ao lermos um trecho como este podemos pensar que Thoreau é algum tipo de preguiçoso, ainda mais na era em que vivemos onde produtividade e trabalho são os novos mantras, recomendo que você ouça o PicciniCast a sociedade do cansaço. Mas a verdade é que Thoreau aqui faz uma divisão entre o trabalho remunerado e a produção artística e que o excesso de trabalho muitas vezes impede o ser humano de produzir arte.
Mais trechos que corroboram com isso:
Se um homem caminha nos bosques, por amor deles, metade de cada dia, está em perigo de ser considerado como um vadio; mas, se passa todo o seu dia, como um especulador, desprovendo aqueles bosques de suas árvores e tornando a terra descoberta antes do seu tempo, é estimado como um cidadão laborioso e empreendedor.
Temos que admitir que Thoreau era um provocador, concorda?
Aqueles serviços, pelos quais a comunidade pagará mais prontamente, são os mais desagradáveis para se prestar. Você será pago por ser algo menos do que um homem. Normalmente, o Estado não recompensa um gênio de modo mais sábio.
A trivialidade da vida sem princípios
Em seguida um pensamento interessante sobre a trivialidade da vida (E olha que ele escreve isso no Séc XIX)
Apenas o caráter daquele que ouve determina o que deve entrar e o que deve ser bloqueado. Creio que a mente pode ser, constantemente, profanada pelo hábito de prestar atenção às coisas triviais, de modo que todos os nossos pensamentos devam ter a aparência da trivialidade.
Aqui Thoreau já alerta para os maus hábitos. Ele associa a trivialidade, ou banalidade, ao caráter da pessoa, hoje em dia sabemos que hábitos podem ser mudados, mas exige uma grande força de vontade.
Liberdade
Chamamos essa a terra das pessoas livres? O que é libertar-se do rei George e continuar como os escravos do rei Preconceito? O que é nascer livre e não viver livre?
Mais um comentário bem perspicaz sobre a liberdade, essa sendo tão importante para os pioneiros norte americanos. A verdade é que liberdade é algo muito mais profundo e quem sabe até uma idealização inatingível.
Este é um ensaio curto e que vale a pena a leitura, desde que você leia de graça, seja em algum arquivo PDF, Amazon Prime ou Kindle Unlimited.
Conto: O Muro de Jean Paul Sartre
Agora vamos a um pequeno conto, O Muro de Jean Paul Sartre é tão interessante que precisei procurar algumas referências acadêmicas para aproveitarmos melhor a análise.
Um primeiro artigo é de Gabriel Engel Ducatti onde sua análise do conto se dá a partir da angústia heideggeriana. O segundo artigo usado é do Psicólogo Thiago Sitoni Gonçalves e sua análise será a partir da morte como fenômeno existencial.
Vamos com calma. Eu não quero que esse pequeno texto do blog vire um tratado acadêmico, tentarei simplificar os conceitos, mas é importante usar os artigos acima, pois Sartre usava a literatura para abordar temas filosóficos e um aprofundamento ajudará a perceber a riqueza desse conto.
Antes de iniciarmos é importante também deixar claro o momento histórico que este conto foi escrito. Sartre escreveu uma série de contos antes da Segunda Guerra Mundial, o próprio Sartre foi detido pela Alemanha Nazista e permaneceu por meses em um dos campos de prisioneiros franceses.
Agora que já entendemos o contexto que o conto foi escrito, proponho definirmos o conceito de angústia a partir do artigo do Ducatti. Ele escreve:
A angústia se difere dos outros sentimentos, pois é o único que tem por característica essencial a impossibilidade de determinação do que e por que; ou seja, não há como determinar o motivo da angústia no ente, como aconteceria com o temor, que é sempre em relação a algo do mundo
Essa angústia definida logo acima revelará para o personagem de Sartre o nada, o personagem passa a se desprender da realidade e daquilo que ele um dia considerou como vida.
O segundo conceito importante é a morte, que segundo os estudos de Gonçalves seria:
O fenômeno da morte apresenta-se como insuperável, pois, ela é a extinção das possibilidades, o limite enquanto impossibilidade de concretização dos projetos do existente humano em seu fazer-se no mundo, isto é, “trata-se, pois, de um limite permanente de meus projetos, e, como tal, este limite é para ser assumido”. A ocorrência da morte não se controla ou escolhe, isto é, faz parte das facticidades em existência. Ao desenvolver sobre a característica inelutável da morte, Sartre não se atém a concepções metafísicas ou religiosas que sejam capazes de amparar o mal estar do existente humano diante do fato que encerrará o para-si, totalizando-o em condição de ser-em-si, que significa algo encerrado, dado pela recordação e memória do outro.
Precisamos entender que a morte para Sartre não é uma continuidade, mas um fim. E o personagem central começa a pensar a respeito desse fim, gerando toda a trama do conto.
Uma vez que definimos estes dois pontos, vamos agora direto a análise do conto de Sartre através de alguns fragmentos que separei.
Encarando a morte de frente
eu nunca pensei sobre a morte porque eu nunca tive qualquer razão para isso, mas agora o motivo estava aqui e não havia nada a fazer além de pensar sobre isso.
Aqui o protagonista já encara sua morte como certa, os primeiros pensamentos surgem em sua mente e ele questiona sua vida, suas ações, amizades, etc. Começamos aqui com os primeiros sinais da angústia que irá acompanhá-lo até o desfecho do conto.
Relacionamentos
nas últimas 24 horas eu vivi ao lado de Tom, eu o ouvira. Eu tinha falado com ele e sabia que não tínhamos nada em comum. E agora parecíamos tão parecidos quanto irmãos gêmeos, simplesmente porque íamos morrer juntos. Tom pegou minha mão sem olhar para mim.
Talvez em meio a esta angústia e até o medo da morte solitária surge a relação com o outro, e a morte transforma estranhos em irmãos gêmeos.
Nada vale a pena diante da morte
Quão loucamente corri atrás da felicidade, das mulheres e da liberdade. Por quê? Eu queria libertar a Espanha, eu admirava Francisco Pi y Margall, entrei para o movimento anarquista, discursei em reuniões públicas: levei tudo tão a sério como se fosse imortal.
Tudo que o personagem buscou, lutou, viveu não vale de nada, ele mesmo não sabe os motivos disso. A última frase é tão profunda que nos leva a pensar sobre nossas próprias escolhas de vida.
A vida é uma mentira
Naquele momento, senti que tinha toda a minha vida na minha frente e pensei: “É uma mentira maldita”.
Aqui vem um questionamento para a nossa própria vida, ela é uma mentira? Obviamente que essa é uma pergunta angustiante e eu não quero que você fuja desse texto antes de ler o resto, mas deixe essa reflexão guardada em algum lugar, ela é importante, e quando você estiver preparado faça essa pergunta para si mesmo.
Texto: Aprendizado supersticioso
Aqui um artigo bem interessante que encontrei no site da BBC e quero trazer para discutir alguns pontos com você.
O artigo se inicia da seguinte forma:
“Quase toda semana, surge um novo artigo descrevendo os comportamentos de um indivíduo de sucesso – com a promessa implícita de que, usando as mesmas técnicas, nós também podemos conseguir fama e fortuna.”
Aqui vale lembrar coisas do tipo, acorde 4 horas da manhã, arrume sua cama, faça networking, e toda aquela conversa que provavelmente você já conhece.
O ponto desse texto não é dizer que acordar cedo ou fazer networking é errado, mas sim uma crítica a uma fórmula do sucesso, como se fosse possível replicar ações de um determinado indivíduo para colher os mesmos resultados, e sabemos muito bem que isso não é tão simples quanto parece.
O cérebro e associações de eventos
“O cérebro está sempre procurando associações entre dois eventos. Geralmente, isso é correto, mas, às vezes, confunde coincidência com causalidade, o que nos leva a atribuir o sucesso a algo arbitrário – como a cor do bloco de anotações ou o número de grãos no café – e não ao talento ou à dedicação ao trabalho”
Algumas pesquisas na área da neurociência que o artigo apresenta demonstram que esse condicionamento de tentar replicar a receita do sucesso é natural no ser humano, ter consciência disso é importante, pois rapidamente podemos cair nessas superstições.
“Algo similar pode estar ocorrendo em escala muito maior, graças à imprensa, quando um bilionário, um escritor de prestígio ou um atleta de nível internacional nos conta sobre a sua rotina diária. Alguns dos seus comportamentos terão sido adquiridos por aprendizado supersticioso, e nós podemos seguir esses conselhos como se fossem verdade absoluta.”
O aprendizado supersticioso, portanto é associar um determinado resultado a uma ação que não tem relação direta, por exemplo, acordar 4 horas da manhã deixará você milionário. Associações como essas são desprovidas de lógica e subtraem todos os outros elementos que tornam uma pessoa de fato milionária.
O aprendizado através da imitação
“Diversos estudos na última década demonstraram que temos a tendência de “imitar excessivamente” quando aprendemos algo com outras pessoas, copiando todas as suas ações, mesmo quando não há razão óbvia e lógica para um ato específico.”
Esse aprendizado por imitação se dá principalmente por conta dos neurônios espelhos, se você não sabe do que se trata recomendo essa leitura. Imitar faz parte da natureza humana, inclusive é importante na questão da sobrevivência, só que determinadas imitações não tem sentido.
O efeito placebo no aprendizado
Talvez você possa alegar que “realmente após ter acordado 4 horas da manhã seus rendimentos aumentaram” tudo bem, mas isso não significa que os seus resultados tenham a ver com só acordar 4 horas da manhã. Você pode ter se tornado mais disciplinado, ou mesmo começou aproveitar as horas a mais para estudar, o que fez você ganhar uma promoção no emprego, enfim, o ponto aqui não tem a ver com acordar cedo, mas sim com um possível efeito placebo:
“De certa forma, é um pouco como o efeito placebo na Medicina – a sensação de que você está fazendo algo positivo pode alterar os próprios resultados.”
Se está funcionando para você ótimo continue assim, o problema é pensar que essa é uma receita pronta para o sucesso e que funcionará em larga escala com todos que fizerem isso. Talvez acordar às 4 horas da manhã para outra pessoa tenha deixado ela pior. Ter consciência dessa diferença é fundamental.
Divagações finais
Estamos finalizando mais um Sumário mensal e aqui algumas divagações finais.
- Vale a pena ler os livros do Thoreau e Sartre, podem até soar meio pesados, mas a reflexão que eles provocam vale a pena.
- Ter uma meta de leitura categorizada ajuda no hábito, por exemplo, invés de colocar como meta “ler 10 livros este ano” você pode estipular “ler todos os livros do Tolkien”, é um caminho interessante.
- Cuidado com o aprendizado supersticioso, você tem suas próprias características, observe mais a si mesmo e busque fazer o que sente melhor.
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